Fome, Sono, Cansaço, Dor e Serenidade — Impressões da Segunda Semana nas Terras do Estrogênio

Gabrielle Weber
4 min readSep 18, 2019

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Eis que a segunda semana dessa maravilhosa aventura, apesar da falta de feriados, voou. Foi uma semana repleta de pequenas descobertas e grandes realizações. Contudo, diferentemente de todo o resto de minha vida, não precisei fazer nada além de existir. Dar-me ao direito de ser feliz comigo mesma foi o melhor presente que já ganhei. Passada a grande expectativa por mudanças que me acompanhou durante a primeira semana e me motivou a fazer um relato diário das minhas percepções sobre esse novo mundo, nessa segunda semana surgiram algumas novas constantes em minha vida: fome, sono, cansaço, dor e uma sensação maravilhosa de serenidade, sobre as quais disserto a seguir.

Fome. Uma fome que não consigo aplacar. Parece que tem um buraco no meu estômago. Não nego que sempre fui boa de garfo, mas depois dos trinta o metabolismo decaiu e raros eram os dias em que meu prato no almoço chegava à marca do meio quilo. Nessa semana, comi no mínimo isso diariamente, seguido sempre de pelo menos um pedaço de algum doce. Sempre fui uma formiga, mas existe uma diferença entre gostar de alguma coisa e ter necessidade de consumi-la. Espero conseguir controlar um pouco melhor o meu apetite nas próximas semanas, caso contrário poderei ser adequadamente aproximada por uma esfera.

Sono e cansaço. Desde que me considero adulta, precisei, salvo raras excessões, de oito e apenas oito horas de sono por noite para acordar renovada no dia seguinte. Por algum motivo que nunca me importei demasiadamente em compreender, se dormisse mesmo que um pouco a mais ou um pouco a menos do que essas oito religiosas horas, passava o resto do dia destruída. Contudo, desde a primeira semana, tenho notado uma certa anomalia nesse comportamento. Relevei um pouco porque devido à toda a excitação da primeira semana, dormi realmente mal, porém nessa semana, apesar de voltar ao meu regime de sono regular, passo o dia inteiro com sono e cansada. Como nosso cérebro tem o bom hábito de esquecer memórias ruins, como, por exemplo, fome, sono e cansaço excessivos, não duvido que essa tenha sido uma parte significativa da minha primeira puberdade. E por falar nela, as espinhas também retornaram. Pelo menos dessa vez, eu tenho um bom motivo para cuidar do meu rosto e por isso espero que os traumas não sejam tão grandes.

E chegamos na dor. Começou como uma leve pressão nos peitos. Passou por uma coceira latente. Até que, finalmente, transformou-se em uma dor intermitente que me assola com frequência cada vez maior. Não reclamo, pois ela traz a certeza de que o tratamento está funcionando e, que a cada de dia que passa, mais perto estou de sair desse casulo. A sensibilidade também aumentou. Toques leves tornaram-se excitantes. E felizmente ainda não descobri os efeitos desastrosos de uma topada ou batida mais forte.

Outro bom indício vem da redução da minha libido e das ereções espontâneas. Enquanto que a diminuição da primeira foi tênue, a da segunda foi bem notável. As únicas ereções indesejadas que tive ao longo dessa semana foram devidas a súbitos alumbramentos devido aos meus crescentes seios. E mesmo as desejadas estão diferentes, não só custam mais para atingir uma dureza considerável como também proporcionam uma sensação diferente. O orgasmo custou mais para ser atingido e a ejaculação também se tornou mais líquida e transparente.

Cheiros estão cada vez mais presentes também. Não é como se a potência do meu olfato tivesse aumentado, mas sim que agora sou capaz de distinguir mais nuances e novos aromas. Um dia desses vieram dois homens trocar o vidro da janela do escritório. Era de manhã, estava friozinho e eles não estavam fedidos, mas o cheiro que deixaram no ambiente após terminarem o serviço me forçou a abrir a janela. Minha esposa que também estava no aposento mencionou um protesto, mas quando expliquei o motivo, prontamente concordou. Além disso, parece que o meu cheiro também está começando a mudar, pois numa tarde um pouco mais quente achei que tivesse por engano vestido alguma camiseta da minha esposa.

Ainda mais notáveis do que todas essas mudanças físicas foram as psicológicas. Meus irritos aleatórios com coisas insignificantes aparentemente sumiram. Eu estou extremamente mais bem humorada e feliz. É como se uma nuvem tempestuosa que pairava sobre a minha cabeça tivesse simplesmente desaparecido. As emoções que antes passavam por mim, agora começaram a fluir através de mim. Emociono-me com muito mais facilidade e a fonte de lágrimas antes seca, agora jorra com abundância.

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Written by Gabrielle Weber

Somente uma mulher trans se aventurando pelas famigeradas terras do estrogênio, enquanto tenta fazer ciência e educar. Artes marcias, café, música e RPG.

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