Peitos, Testículos e Sonhos

Gabrielle Weber
3 min readOct 13, 2019

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As Aventuras de Gabi nas Terras do Estrogênio — Terceira Semana

E com isso terminamos a terceira semana da aventura mais louca e excitante que já participei. Digo participar, pois não estou sozinha nessa empreitada. Algumas pessoas têm assumido um papel muito importante nesse processo de autoaceitação e autodescoberta que tenho passado. Isso sem contar todes que não só têm lido meus relatos, mas me dado forças para continuar. A todes vocês, sou extremamente grata!

Os sinais da segunda puberdade: fome, sono e cansaço, sobre os quais descorri profusamente no relato da semana anterior continuam a me acompanhar. Felizmente, com o feriado dessa semana pude descansar um pouco, e o par cansaço e sono deu uma aliviada. Contudo, tenho certeza que retornarão com sangue nos olhos ao longo da próxima semana. Afinal, nada como aquele comecinho de descanso após um longo e exaustivo ano para que percebamos o quão cansados realmente estamos.

As dores nos peitos não só se intensificaram e se tornaram mais frequentes como ganharam novas nuances. Acho que já consigo identificar pelo menos quatro sabores diferentes. A pioneira, que parecia com a pressão de um objeto pesado sobre o meu peito, já não é a dominante, embora mostre a cara de tempos em tempos. A atual rainha das dores se parece com um espasmo da musculatura do peito. Uma contração forte como se o meu peito quisesse expulsar algo. Elas já estavam me acompanhando desde a semana passada, mas nessa semana parece que sob o efeito dos esteróides ganharam garras e toda uma nova violência. São espasmos cada vez mais fortes e intensos, com durações progressivamente maiores. Talvez essa descrição assuste e passe a impressão de que estou sofrendo. Muito pelo contrário, cada vez que me assolam, sinto-me como se estivesse sendo abraçada. Como se pela primeira vez na vida o meu corpo realmente me quisesse. As outras duas são ainda ilustres coadjuvantes. Uma se parece com a sensação de formigamento que aparece depois que restabelecemos a circulação em um membro dormente, enquanto que a outra, com uma sensação de ardência e queimação. A sensibilidade ao toque também aumentou bastante e pequenas estruturas já se formaram por trás dos meus mamilos.

Definitivamente, posso afirmar que meus testículos começaram a se atrofiar. Já parecem menores ao toque. Além disso, os epidídimos, dutos que coletam e armazenam os espermatozoides, conectando-se aos canais deferentes, estão levemente inchados e bem sensíveis ao toque. Não chegam a doer, mas definitivamente incomodam um pouco. Pelo que entendi, uma certa sensibilidade na área é normal e sinal da atrofia. As ereções espontâneas praticamente cessaram e preciso estar realmente excitada para tê-las. Finalmente, parece que estou no controle da minha libido e não ela de mim. Não existe mais aquela necessidade crônica de se masturbar, que fornecia apenas um alívio imediato seguido de uma sensação péssima e persistente de inadequação. Que alívio!

Minhas emoções estão por todos os lugares. A vida está mais vibrante e muito mais colorida. As lágrimas vêm com mais facilidade, seja na tristeza ou na felicidade, juntas de diversas outras sensações que nunca havia experimentado e para as quais ainda não tenho nomes ainda. Essa intensidade arrebatadora está sendo contrabalançada por uma serenidade que me dá certeza de estar trilhando o caminho certo. Há muita luz no final do túnel, e ela já está muito próxima. Em meus sonhos já começo a me enxergar como a mulher que estou me tornando. A tal ponto que, ao acordar numa dessas madrugadas, provavelmente depois de um desses sonhos fugazes, fui arrebatada por sensação maravilhosa de completude, de feminilidade plena. Tão intensa foi, que por alguns momentos esqueci que tinha nascido homem.

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Gabrielle Weber
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Written by Gabrielle Weber

Somente uma mulher trans se aventurando pelas famigeradas terras do estrogênio, enquanto tenta fazer ciência e educar. Artes marcias, café, música e RPG.

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